terça-feira, 29 de março de 2011

Japão contra J-League: Amistoso beneficente ajuda as vítimas da tragédia

A bandeira assinada pelos jogadores / Foto: J.League Photos

Depois de passar pelo pior desastre natural da história do país, milhares de japoneses sofrem com a perda de parentes e amigos, enquanto centenas de mlhares perderam suas casas e precisam recomeçar tudo do zero. Nesse contexto, uma partida de futebol ou o cancelamento dos amistosos da seleção e das rodadas da J-League até abril parece algo insignificante. Para quem perdeu tudo o que tinha e depende da ajuda dos outros para reconstruir a vida, pode não ser o melhor momento para se falar de esporte ou diversão.

Porém, em prol dessas pessoas, o mundo todo se comoveu e ajudou de alguma forma. O esporte mostrou que ainda pode contribuir para aqueles que mais precisam: em um jogo beneficente realizado em Osaka, a seleção japonesa enfrentou um combinado da J-League, batizado de "Team as One" - um nome que representou a solidariedade e a determinação da liga, dos clubes, dos atletas e torcedores que, agindo juntos como um só, por um ideal maior, lutam em prol de reerguer o país, usando o futebol como ferramenta.

A partida aconteceu no Nagai Stadium, para um público de 40.613 expectadores, com um clima de emoção e otimismo incríveis. Em todo lugar haviam mensagens de incentivo para o país e também para os times mais afetados pelo desastre, como o Vegalta Sendai. Frases como "Ganbarou, Nippon" (Força, Japão) e "You will never walk alone" (Você nunca caminhará sozinho) tornaram-se o tema deste amistoso. Uma comovente demonstração de força e vontade de reconstruir o país dos japoneses.

Silêncio em memória das vítimas antes da partida / Foto: J.League Photos

O sérvio Dragan Stojkovic, atual campeão com o Nagoya Grampus, foi o técnico da seleção da J-League. Ele chamou 20 jogadores representando 14 clubes diferentes, formando um time com vários atletas experientes - muitos que já foram estrelas da seleção japonesa - e tambem algumas promessas. Entre tantas estrelas, uma delas era Kazu, que mesmo aos 44 anos está firme e forte no Yokohama FC da segunda divisão e recebeu essa merecida homenagem ao ser chamado por Stojkovic. Não se sabe ao certo se o uniforme amarelo e azul do time da J-League foi mais uma homenagem ao Vegalta Sendai, que teve o centro de treinamento arrasado pelo tsunami, ou foi uma referência às cores da bandeira do Fair Play. De qualquer forma, representando o time de Sendai, estavam lá os meias Sekiguchi e Yong-Gi. Confira a relação do time da J-League:

J-League Team as One

Goleiros
Yoshikatsu Kawaguchi (Júbilo Iwata)
Seigo Narazaki (Nagoya Grampus)

Laterais
Toru Araiba (Kashima Antlers)
Yuichi Komano (Júbilo Iwata)
Takanobu Komiyama (Kawasaki Frontale)

Zagueiros
Marcus Tulio Tanaka (Nagoya Grampus)
Yuji Nakazawa (Yokohama Marinos)
Teruyuki Moniwa (Cerezo Osaka)

Meias
Kunimitsu Sekiguchi (Vegalta Sendai)
Ryang Yong-Ji (Vegalta Sendai)
Mitsuo Ogasawara (Kashima Antlers)
Shinji Ono (Shimizu S-Pulse)
Kengo Nakamura (Kawasaki Frontale)
Shunsuke Nakamura (Yokohama Marinos)

Atacantes
Genki Haraguchi (Urawa Reds)
Mike Havenaar (Ventforet Kofu)
Shouki Hirai (Gamba Osaka)
Yoshito Okubo (Vissel Kobe)
Hisato Sato (Sanfrecce Hiroshima)
Kazuyoshi Miura (Yokohama FC)

A seleção do Japão foi quase a mesma que venceu a Copa da Ásia dois meses atrás, com pequenas mudanças. O técnico italiano Alberto Zaccheroni chamou um grupo de 26 jogadores. Mesmo não sendo um amistoso oficial, todos que atuam na Europa foram liberados por seus clubes. Veja a lista com os convocados:

Seleção do Japão

Goleiros
Eiji Kawashima (Lierse - Bélgica)
Shusaku Nishikawa (Sanfrecce Hiroshima)
Masaaki Higashiguchi (Albirex Niigata)

Laterais
Atsuto Uchida (Schalke 04 - Alemanha)
Yuto Nagatomo (Internazionale - Itália)

Zagueiros
Tomoaki Makino (Colônia - Alemanha)
Maya Yoshida (VVV-Venlo - Holanda)
Yasuyuki Konno (FC Tokyo)
Masahiko Inoha (Kashima Antlers)
Daiki Iwamasa (Kashima Antlers)
Ryota Moriwaki (Sanfrecce Hiroshima)
Yuzo Kurihara (Yokohama Marinos)

Meias
Yasuhito Endo (Gamba Osaka)
Makoto Hasebe (Wolfsburg - Alemanha)
Yuki Abe (Leicester City - Inglaterra)
Takuya Honda (Kashima Antlers)
Hajime Hosogai (Ausburg - Alemanha)
Yosuke Kashiwagi (Urawa Reds)
Daisuke Matsui (Grenoble - França)
Jungo Fujimoto (Nagoya Grampus)
Akihiro Ienaga (Mallorca - Espanha)
Keisuke Honda (CSKA Moskow - Rússia)
Takashi Inui (Cerezo Osaka)

Atacantes
Ryoichi Maeda (Júbilo Iwata)
Tadanari Lee (Sanfrecce Hiroshima)
Shinji Okazaki (Stuttgart - Alemanha)

Os times no início do jogo: a seleção japonesa no 3-4-3 e a seleção da J-League no 4-3-3

Zaccheroni aproveitou a oportunidade para testar sua formação preferida, o incomum 3-4-3. Konno, Yoshida e Inoha formaram o trio de defesa, com os volantes Endo e Hasebe logo à frente deles. Os laterais Uchida e Nagatomo ficaram bem mais avançados, praticamente como wingers. Na ataque, Honda jogou pelo lado direito, Okazaki pelo esquerdo e Maeda como centroavante.

Stojkovic foi com o 4-3-3 que já está acostumado a usar no Nagoya Grampus. Narazaki, titular do Japão na Copa de 2002 e MVP da J-League em 2010, começou no gol. A dupla de zaga foi formada por Tulio e Nakazawa, titulares da seleção de Takeshi Okada na Copa de 2010. Komano e Araiba foram os laterais. No meio-campo, três jogadores da "geração de ouro" do Japão: Ogasawara, Ono e Kengo Nakamura. Uma pequena surpresa aqui, já que o esperado era que o outro Nakamura, o Shunsuke, começasse como titular. No ataque, a expectativa era de quem jogaria como centroavante entre Kazu e Havenaar. Mas Stojkovic escolheu Sato, que teve a companhia de Okubo e do norte-coreano Yong-Gi.

Depois de um discurso dos capitães das duas equipes (Hasebe pelo Japão e Nakazawa pela J-League), todos os 22 jogadores formaram um círculo no meio do campo e fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas da tragédia, que foi rigorosamente respeitado.

Com a bola rolando, a seleção do Japão dominou no primeiro tempo, quando jogou com os titulares. Aos 14 minutos, Nakazawa errou na saída de bola e deu de presente para Honda, que avançava na direção do gol até ser derrubado por Kengo perto da grande área. Endo cobrou com perfeição e abriu o placar. Quatro minutos depois, Honda roubou a bola mais uma vez e deixou Okazaki na cara do gol. O atacante do Stuttgart só deu um toquinho por cima de Narazaki pra fazer 2x0. O primeiro tempo terminou assim, sem grandes chances para o time da J-League. Honda ainda poderia ter marcado o seu em um rápido contra-ataque, mas parou nas mãos de Narazaki.

As equipes na metade do segundo tempo: o Japão com a mesma formação, mas com os reservas em campo; a J-League com um time mais ofensivo, sem uma formação definida do meio pra frente, com dois meias ofensivos e quatro atacantes

No segundo tempo, praticamente todos os jogadores foram substituídos; afinal de contas, nada mais justo que todos os 46 atletas participarem desse evento histórico. Jogando com os reservas, o domínio que a seleção de Zaccheroni mostrou na primeira etapa não existia mais; quem comandava agora era a seleção da J-League, liderados por Shunsuke Nakamura. Com Kazu em campo, parecia ser o desejo de todos que ele fizesse um gol.

O "Rei" Kazu entrou no segundo tempo e marcou o gol do time da J-League / Foto: J.League Photos

E não deu outra: aos 36 minutos, Kawaguchi bateu pra frente, Tulio - que não perde uma chance de ir ao ataque - escorou de cabeça para Kazu, que concluiu com perfeição na saída do goleiro para fazer o gol da J-League, comemorando no melhor estilo brasileiro, com uma sambadinha. O estádio inteiro comemorou, o país inteiro comemorou. E muitos mundo afora também. Talvez ninguém naquele estádio merecesse mais do que ele marcar aquele gol. Assim como a seleção japonesa e a J-League devem muito do que são hoje a ele, Kazu retribuiu da melhor maneira que pode: colocando um sorriso no rosto de milhões.

Não tinha forma melhor de acabar um jogo onde pouco importava o time que fez mais gols. Todos comemoraram, todos saíram ganhando. Os times foram um só, o país foi um só. Esta partida e muitos outros gestos mostram o quanto o ser humano (ainda) é capaz de atos bonitos, e que o Japão tem toda a força que precisa para se levantar e seguir em frente.

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